quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A difícil missão de pontuar frases. E fases.

Sou apaixonada por letras. Ponto.
Desde que me entendo por gente tenho essa relação com textos e isso acabou gerando um puta defeito: Sou daquelas que desenvolvem melhor uma ideia no papel do que verbalizando. Então, se encontrar um bilhetinho meu escrito em guardanapo, valorize! Eu não escrevo pra qualquer um e isso pode valer muito mais que um coraçãozinho com seu nome dentro. Não, eu nunca fiz isso, apesar de achar super romântico e..não.

Quando pequenos aprendemos a pontuar frases, usar vírgulas, reticências e pontos finais. Aprendemos a separar as ideias por parágrafos e manter a coerência, seguir uma linha de raciocínio.. Se de  repente, lá no meio do texto as ideias se confundirem, tu pode apagar e começar de novo. Mas e se estiver escrevendo a historia da sua vida? Nem a borracha azul ou o corretivo mais foda do mundo é capaz de apagar o que já foi escrito, então, a única solução é colocar um ponto final e começar de novo. Dali mesmo. Com todos os erros de português e falta de coesão. Ninguém vai perceber se você tava falando de arvores e terminar falando do avanço da economia global. A vida é tua, o texto é teu.

Já leu um texto escrito por criança? É confuso de tão somples. O texto é corrido, com idéias soltas. Não tem virgula, não tem ponto. Crianças escrevem como vivem: sem complicações.

Aí a gente cresce e a gramática fode com nossas vidas. Surge a necessidade de aprender a lingua e escrever corretamente. Pontuar, definir tema e assunto. Racionalizar, pensar antes e escrever depois. E a gente vai perdendo a simplicidade, vai criando medo de errar e descobre que terminar uma frase com um ponto (.) ou três (...) muda todo o contexto de uma historia.

Quando estou escrevendo uso pontos finais com certa facilidade. Só nesse texto já devo ter usado mais de 10 (não vou parar pra contar senão perco o raciocinio), e na vida, será que eu sei pontuar as fases? Se eu preciso parar para respirar, uso virgulas. Se quero dar continuidade, reticências. Se quero finalizar uma ideia..Ponto final.

Eu sou taurina e mesmo que você não acredite em astrologia já deve ter lido ou ouvido algo sobre a nossa resistência a mudanças. Pois bem, o signo da estabilidade  e do comodismo não gosta de encerrar ciclos. Isso implicaria em começar algo novo e, consequentemente, encarar mudanças de percurso. Ainda bem que o ascendente em libra equilibra tudo isso, mas esse não é o ponto. O ponto em questão é o final.

As vezes tu sabe que a historia não vai dar em nada, que já se perdeu nas entrelinhas mas continua ali, escrevendo, usando virgulas e reticências para adiar o fim, buscando uma reviravolta no estilo George Martin, mas no fim..É o ponto final.

E dá um medo danado de terminar. Tu relê o texto e se questiona onde foi que se perdeu. Se eu tivesse escrito aquele  parágrafo diferente.. Se não tivesse perdido tanto tempo naquele capítulo.. Maldito personagem! Te dei o papel principal e agora você tá sumindo nas entrelinhas. 

Já perdi as contas de quantos textos deixei pela metade por não saber como continuar. Muitos não passaram nem do segundo parágrafo, em outros poucos só faltou a conclusão..Talvez esse "deixar em aberto" seja a forma mais dinâmica de terminar um texto. Quem nunca se questionou sobre o triangulo amoroso Bentinho-Capitu-Escobar?Machado de Assis pode se revirar no túmulo mas sempre vai caber um questionamento.

E quando a gente fala em pontuar a vida, vem outra complicação: você não escreve sozinho.  Os personagens tem vida própria e nem sempre (quase nunca) seguem o roteiro que tu escreveu. Sabe aquela cena linda em que vocês estão jogados no sofá assistindo um filme qualquer e, de repente, ele te pede em namoro? Filha, não vai rolar. Primeiro porque não. Segundo porque o personagem tá pensando em algum super lançamento da playstation, ou na roupa que tem que lavar no fim de semana ou em alguma acreana (não, não tô falando da Marina Silva). Tem que rolar uma sintonia muito grande pra acertar o roteiro e coincidir idéias e ideais. As vezes tu quer continuar aquele capitulo e o outro já está em outro livro..

É nesse momento que eu me consagro como uma grande escritora solo. Nunca soube nem fazer trabalho em dupla, imagina escrever minha vida! E é nesse momento que eu deixo, mais uma vez, as reticências falarem por mim..